Antônio Mauro reflete sobre os desafios e esperanças para o Ano Novo

 

O psicólogo e escritor Antônio Mauro compartilhou um texto reflexivo intitulado “Feliz Ano Velho?”, que convida os leitores a ponderarem sobre os altos e baixos do ano que termina e a renovarem suas esperanças para o ano que chega. Confira na íntegra:

FELIZ ANO VELHO? REFLEXÕES

Caro sobrevivente,

Chegamos ao fim de mais um ano. Como você está se sentindo? Felicidade pelas conquistas, por enfrentar os desafios diários da vida ou tristeza pelos fracassos e por repetir a mesma receita do ano anterior? O que sente ao revisitar brevemente os meses? Consegue afirmar: Feliz ano velho!?

Para muitos: “meu Deus, quanta água!” Se agarravam nos galhos, carros, pessoas… enfrentavam o medo da altura para escapar, viver. Para outros: bom, nossos sentimentos, pois não tiveram tempo de respirar. O tempo os arrastou pelas correntezas.

Enquanto muitos lutavam contra as enchentes, outros desejavam chuva.

Para muitos: “quanta sequidão. Nunca vi tanta falta de água em minha vida”. Se agarravam nos finos fios de água para sobreviver. Deixavam as canoas distantes das margens, traziam para casa cada vez menos peixe. O rio secava na velocidade do medo. “Teremos rio no próximo ano?”

Para muitos: “quantas queimadas, né? É isso quase todos os dias nos jornais”, “estão destruindo tudo”. Os bichos correm, correm do fogo, das armas, das máquinas com suas correntes gigantes. Quanta agonia. Cutias e pássaros imóveis como se aceitassem o fim, preferindo ser cinzas.

Enquanto muitos desejavam água, outros queriam apenas respirar.

Para muitos, muitos: “minha filha, que zumbido é esse? Parece um bando de abelhas no espaço”. “– É drone, vô. Estão colocando veneno no ar”. “– No ar?” Incrédulo questiona e lembra que na sua juventude, veneno se colocava diretamente no que desejava eliminar. “– Por isso meus pés de macaxeira estão morrendo, os coentros, mandioca, os pés de vinagreira…”, “Estão nos expulsando, ou melhor, nos matando. Acho que sua vó morreu por causa desse veneno no ar.”

Alguns sonham com chuvas para poder regar a plantação, pela volta dos peixes, poder encostar a canoa na margem perto de casa. Outros querem um pouco mais de sol para enxugar as lágrimas. Milhares querem apenas respirar. Mas todos nós queremos apenas uma coisa: esperança de dias melhores.

Está difícil respirar: tem muita água, o ar está muito seco, tem veneno e muita fumaça.

Se não bastassem esses males, ainda precisamos lutar contra a tortura dos: “planos inacabados, das propostas prorrogadas, do tempo perdido…” um lamento sem fim no fim do ano. Tenha coragem de olhar para o que está morto e siga. Amanhã é um novo dia, não importa se é fim de dezembro, o que importa é o primeiro passo, não o mês que se inicia.

Que o próximo ano traga mais do que dias melhores: que traga fôlego e renovação.

Abraços,

Antonio Mauro

Psicólogo e escritor

Com uma linguagem poética e sensível, Antônio Mauro nos recorda das dificuldades enfrentadas, mas também da capacidade humana de superar adversidades. Ele encerra sua reflexão com um apelo à esperança e à ação: que possamos transformar o próximo ano em um recomeço cheio de coragem e propósito.

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